A Fundação Calouste Gulbenkian e o Instituto de Empreendedorismo Social (IES) lançaram esta semana, em Lisboa, o Laboratório de Investimento Social, em parceria com a Social Finance UK.
O objetivo da nova plataforma é ser um centro de referência para a criação de um mercado de investimento social em Portugal, aproximando os “atores dos setores social, público e financeiro”.
O facto de em Portugal ter aumentado o nível de pobreza, desde que o país está sob ajuda externa, será motivo para atrair investidores sociais ou, pelo contrário, essa realidade traduz-se num risco acrescido? Bernard Horn, líder do conselho de administração da Social Finance UK, que participou no evento, em Lisboa, considera que a iniciativa da Gulbenkian é “um bom exemplo de que haverá enormes oportunidades disponíveis de investimento social em Portugal”.
Bernard Horn falou um pouco da experiência no Reino Unido, onde foram criados os Títulos de Impacto Social, que reuniram 5 milhões de libras de um número de investidores que abordou a questão da reincidência dos prisioneiros. “Aquele dinheiro está a ser usado para investir em organizações sociais e empresariais que trabalham com presos, e trabalham com eles antes de saírem da prisão, para que tenham uma orientação na sua vida”. Usou este exemplo para ilustrar o que é um “investimento social clássico”, porque o retorno está lá: “O primeiro impacto é sobre os prisioneiros, para que eles não reincidam, mas também há impacto sobre suas famílias e a comunidade. E isso é um exemplo clássico de como o investimento social funciona muito bem”.
Mas como se avalia o retorno de um investimento social?
Bernard Horn explica que “a gestão de desempenho tem um conjunto de indicadores quantificáveis”. No caso dos prisioneiros, a metodologia consistiu em identificar uma série de indicadores para um determinado grupo e depois compará-los com a população total de prisioneiros com igual período de sentença. “Em algumas das questões que agora desenvolvemos há séries métricas muito complicadas, mas necessárias. O que significa que temos que dedicar um pouco de tempo às organizações que estão a investir, para ter certeza de que os investidores vão obter um retorno adequado em função do que tinha sido previamente acordado”.
Quando se questiona qual o retorno mais importante, se o social ou o financeiro, Bernard Horn não hesita: “São ambos, mas o retorno social é uma espécie de pedra de toque”.
Regressa ao caso dos prisioneiros para mostrar que os investidores poderão perder todo o dinheiro se, no final do projeto, o período de reincidência (de 7 anos) não for reduzido, embora considere isso “altamente improvável, mas possível”.
Regressa ao caso dos prisioneiros para mostrar que os investidores poderão perder todo o dinheiro se, no final do projeto, o período de reincidência (de 7 anos) não for reduzido, embora considere isso “altamente improvável, mas possível”.
Ou seja, admite que há “um retorno financeiro e um retorno social”. E também acredita que “à medida que se desenvolvem diferentes soluções para os problemas sociais no Reino Unido, aqui em Portugal, na América e noutros lugares do mundo, vai haver uma melhor compreensão dos dois retornos”.
Reconhece que “os filantropos, as fundações e as pessoas que apoiam as questões sociais não querem apenas dar dinheiro e esquecê-lo, mas querem ter a oportunidade de investir num projeto, numa solução para algum problema social enraizado”. Nesse contexto, aceita que “eles podem obter um retorno financeiro, mas não estão à procura de grandes retornos”.
E também considera que, “havendo um retorno financeiro ele irá ajudar a desenvolver um mercado muito maior para os investidores”, adiantando que um dos sonhos da organização que lidera é “ter um fundo onde as pessoas individuais possam investir, na perspetiva de saberem que, colocando ali o seu dinheiro, estão não só a fazer um bem social, como podem pensar numa pequena troca. Então, os dois retornos misturam-se”.
Em sua opinião, “é importante envolver todas as diferentes partes da equação (entidades sociais, investidores e Governo), para que possam falar e no fim do dia ter-se um cenário de ganha-ganha”. Reportando-se, de novo, ao caso da prisão do Reino Unido, nota que “se o projeto tiver sucesso, o custo para o erário público será reduzido, porque colocar as pessoas na prisão custa muito dinheiro ao Estado”.
Em resumo, entende que “as pessoas estão a viajar agora com uma mente muito aberta sobre como esta nova fonte de financiamento pode melhorar a vida de todos”. E conclui: “Queremos resolver e melhorar algumas destas questões sociais arraigadas e isso é realmente a chave”.
in http://www.dinheirovivo.pt/Economia/Artigo/CIECO326776.html?page=0