segunda-feira, 25 de outubro de 2010

BRASIL: A escolha de Wellington

Ao pisar de volta no presídio, o rapaz deu um passo decisivo para ingressar na sociedade, por mais que sua situação pudesse sugerir o contrário
Histórias como a do presidiário Wellington T. S., de 29 anos, são fundamentais para instigar a sociedade a repensar seus valores - e também seus preconceitos - mais arraigados.
Favorecido com o regime semiaberto, Wellington passava as noites na Penitenciária Danilo Pinheiro (P-1), localizada no Mineirão, e tinha autorização para sair durante o dia, para trabalhar. Até que não retornou e foi considerado foragido.
Algum tempo depois (o registro policial não informa quanto), o rapaz mudou de ideia e se apresentou na penitenciária, disposto a cumprir o restante da pena - mesmo sabendo que, por fugir, perdera o direito ao semiaberto e deveria voltar para o regime fechado. Para atender à formalidade que o impedia de ser readmitido no presídio sem passar pela polícia, foi sozinho até a delegacia do plantão Norte, na avenida Ipanema, onde finalmente conseguiu ser detido (“Preso se apresenta na P-1, mas é recusado”, 20/10, pág. A6).
Não é preciso muita imaginação para deduzir o motivo que levou Wellington a voltar para a cadeia. Ele deve ter percebido que, na qualidade de procurado, estaria condenado a uma pena ainda mais torturante do que a clausura, impedido de levar uma vida normal e de fazer as mínimas coisas - jogar bola com os amigos, levar a mulher ao cinema - sem se atormentar com a ideia de ser reconhecido. Talvez pudesse desfrutar de um pouco mais de liberdade, se fugisse para alguma cidade distante, mas isso provavelmente o afastaria da família e dos amigos, e o obrigaria a ser praticamente outra pessoa.
Assim, de forma incisiva, Wellington fez uma opção por ser alguém e por lutar para recuperar sua condição de homem livre, mesmo que isso implicasse renunciar aos sonhos mais simples, por algum tempo. Ao pisar de volta no presídio, o rapaz deu um passo decisivo para ingressar na sociedade, por mais que sua situação pudesse sugerir o contrário.
É claro que nunca se pode saber o dia de amanhã, pois o sucesso e o fracasso são resultado de uma lista infindável de fatores, mas Wellington, por sua atitude, tem uma chance muito boa de sair da cadeia melhor do que entrou. E ele não é o único exemplo de que a recuperação, pela via do sistema penitenciário -mesmo com todos os problemas existentes, como a superlotação e a ausência de tratamento digno atrás das grades -, é possível.
Recentemente, cerca de 170 ex-detentos que prestam serviços de manutenção de vias públicas para a Prefeitura despertaram a admiração da comunidade ao procurar o banco para devolver dinheiro, depois de constatar que suas contas haviam recebido depósitos indevidos. “Os cooperados viram o erro e nos comunicaram. Quem sacou o dinheiro já se prontificou a devolver”, declarou, na ocasião, a presidente da cooperativa de ex-detentos, Miraci Vieira Cugler (“Preso se apresenta na P-1, mas é recusado”, 20/10, pág. A6).
O convênio mantido em Sorocaba permite que os egressos do cárcere retornem ao mercado de trabalho e, dessa forma, adquiram as condições mínimas para exercer outros direitos, que ficariam seriamente comprometidos sem uma fonte de sustento. É uma aposta certa na capacidade de recuperação das pessoas, que tem dado bons resultados. Cada ex-detento que se reintegra à sociedade é uma prova viva de que vale a pena investir na melhoria do sistema carcerário e nos programas de ressocialização, para oferecer àqueles que assim o queiram uma oportunidade de começar vida nova.
Infelizmente, os que saem do sistema pela porta da frente, dispostos a resgatar sua cidadania com trabalho honesto e escolhas maduras, depois de cumprirem suas penas e pagarem sua “dívida com a sociedade”, nem chegam a ser notícia, já que as atenções estão sempre voltadas para os que fogem e fazem rebeliões.
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"...Quando um voluntário é essencialmente um visitador prisional, saiba ele que o seu papel, por muito pouco que a um olhar desprevenido possa parecer, é susceptível de produzir um efeito apaziguador de grande alcance..."

"... When one is essentially a volunteer prison visitor, he knows that his role, however little that may seem a look unprepared, is likely to produce a far-reaching effect pacificatory ..."

Dr. José de Sousa Mendes
Presidente da FIAR