por Monaliza Costa de Souza
Uma jornada internacional Brasil/ EUA na Justiça Restaurativa
Bom dia pessoal!Bom, não podia deixar de dizer a vocês sobre a minha sexta-feira (22). Estava no Ministério Público assistindo à palestra da prof. Kay Pranis, uma norte americana, sábia, uma pacificadora, e como ela mesma se descreve matemática e mãe. Foi ótimo ter podido comparecer, ouvir a respeito da experiência de pessoas como ela sempre me dá uma visão otimista a respeito da justiça restaurativa. E também me dá a noção de que toda minha construção a respeito do tema não é viajante, é sim uma realidade que já acontece a cada dia no mundo.A primeira coisa que me alegrou foi a demonstração de contentamento dela em perceber a nossa cultura. Sei que estão pensando que temos muitos defeitos, e não tenho dúvida disso, mas ver que alguém crê que nós temos um potencial enorme para ser um povo melhor, dá um fôlego novo. Ela destacou, e acabou por retificar o que foi dito no Seminário Brasil/ Canadá, que quando implementarmos de vez a Justiça Restaurativa no país nos posicionaremos bem adiante dos Estados Unidos, ou do Canadá, enfim, porque nossa natureza tem uma afinidade pessoal, uma demonstração afetiva, não encontrada nesses lugares, e que facilita o processo restaurativo.Pois bem, não vou descrever toda a palestra porque muito do que ela disse, sobre o que é e como funciona a justiça restaurativa, já foi dito antes. Acho importante enumerar alguns pontos que entendi serem relevantes:- a importância de se deixar a comunidade mais forte;- a confiança como peça chave do processo restaurativo;- a utilização nos círculos do "objeto da palavra", um objeto que circula e que aquele que o detém tem a possibilidade de se expressar, falar, enquanto todos os outros lhe ouvem (naquele momento em que o objeto está comigo eu tenho o poder da palavra, assim como todos os demais do círculo terão quando chegar o seu momento);- a existência do "papo restaurativo", aonde algumas perguntas se fazem importantes para alcançar o ofensor: o que se passou na sua cabeça? o que você estava tentando conseguir com isso? quem sofreu e de que forma? como consertar isso?- a relevância da Comunicação Respeitosa, através: da expressão facial neutra, do tom de voz sem sarcasmo, do respirar antes de falar, e do ver sempre o lado positivo;- a importância na JR do equilíbrio de poder entre vítima e ofensor, o que lhes dá a oportunidade de conversar e restaurar suas relações;- a existência de manifestações não verbais no círculo, e com isso a questão dos círculos serem realizados sem a existência de uma mesa, porque atrás dela muito pode ser escondido;- Kay diz que está no nosso DNA a sabedoria de nos relacionar com as outras pessoas, mas que a nossa cultura nos desconecta disso, e que a nossa capacidade fica reduzida, não nos mostrando como realmente somos. (isso eu confesso que acho controverso, mas não quero entrar em discussão nesse momento);- a punição não serve à responsabilização, não repara o dano;- a responsabilização traz a cura para todos;- por vezes a vítima necessita de acolhimento, de ouvir que foi uma injustiça ter ocorrido aquilo com ela;
- é possível ter um círculo aonde ambos entendem que são vítimas, pois ele se presta muito bem quando há dúvida sobre quem cometeu o dano. Isso é uma situação bastante comum. E de uma certa forma todos tem responsabilidade sobre o que aconteceu;
- o silêncio é o que contribui para que a violência continue ocorrendo, e no círculo este silêncio é quebrado;
- Círculo de Paz na escola, funções:
1. intervenção (resolver)
2. construção de comunidade, descobrir técnicas (fortalecer os vínculos)
3. ensinar, como ferramenta pedagógica (comunicação)
- há um engajamento dos que estão ao redor do círculo para criar um senso de comunidade e pertencimento;
- a importância do check-in no início dos momentos de encontro (seja um círculo, uma aula, um curso, uma palestra etc) – quando se passa o objeto da palavra, e se pergunta: como você está, o que está acontecendo com você?
- Se os jovens internalizarem esse processo e suas técnicas, será muito mais fácil inserir essa cultura dentro da sociedade, para dentro de casa, e da sua família;
- Não é preciso estar certo para ser amado;
- Nunca é tarde demais para falar e ser ouvido;
- Falar sobre as coisas que queremos que aconteça, ver o lado positivo, e não as que não queremos.
- Se vc mudar a pergunta, vc muda a direção da ação, da resposta, o que tem que ser feito;
- Quanto maior a turbulência, mais robusta será a solução. As vezes precisamos viver em turbulência para encontrarmos os nossos caminhos;
- Interconectividade - Não podemos cuidar apenas de nós, mas dos outros também. Nós nunca estamos sozinhos, nós pertencemos aconteça o que acontecer, estamos todos interligados.
Muitas coisas ditas, muitas coisas ouvidas, e tudo extremamente importante para o meu crescimento profissional e pessoal. Não há quem fale e que não traga sequer uma dezena de experiências, vivências e ensinamentos que contribuem para que a JR cresça dentro de mim, dos meus conceitos. Confesso que depois das aulas de Comunicação Não-violenta (CNV) não conseguia aplicar na minha vida todo aquele aprendizado, lindo, mas que para mim era complicado demais estabelecer no meu dia-a-dia, mas cada dia a mais que ouço tudo isso consigo internalizar as ideias, e hoje eu sei que já consigo aplicar as técnicas da não-violência. Consigo olhar o outro com certa empatia, percebendo que muito do que não gosto são sentimentos unicamente meus, mas que é possível que o outro tenha necessidades que não estou atendendo naquele momento, e quem sabe eu possa melhorar como indivíduo.
Sabem o que é CNV? Recomendo para aqueles que não sabem, darem uma lida nos primeiros posts desse blog, e começarem a aplicar isso em suas vidas. É uma mudança interna que apazigua o coração e nos faz ver e agir com o mundo de uma forma diferente. Não precisa ter uma religião certa, apenas querer fazer a diferença, e enfrentá-la como uma filosofia de vida.
Tenham uma ótima terça!
Monaliza Costa de Souza
Porto Alegre - RS, 26 de outubro de 2010
Uma jornada internacional Brasil/ EUA na Justiça Restaurativa
Bom dia pessoal!Bom, não podia deixar de dizer a vocês sobre a minha sexta-feira (22). Estava no Ministério Público assistindo à palestra da prof. Kay Pranis, uma norte americana, sábia, uma pacificadora, e como ela mesma se descreve matemática e mãe. Foi ótimo ter podido comparecer, ouvir a respeito da experiência de pessoas como ela sempre me dá uma visão otimista a respeito da justiça restaurativa. E também me dá a noção de que toda minha construção a respeito do tema não é viajante, é sim uma realidade que já acontece a cada dia no mundo.A primeira coisa que me alegrou foi a demonstração de contentamento dela em perceber a nossa cultura. Sei que estão pensando que temos muitos defeitos, e não tenho dúvida disso, mas ver que alguém crê que nós temos um potencial enorme para ser um povo melhor, dá um fôlego novo. Ela destacou, e acabou por retificar o que foi dito no Seminário Brasil/ Canadá, que quando implementarmos de vez a Justiça Restaurativa no país nos posicionaremos bem adiante dos Estados Unidos, ou do Canadá, enfim, porque nossa natureza tem uma afinidade pessoal, uma demonstração afetiva, não encontrada nesses lugares, e que facilita o processo restaurativo.Pois bem, não vou descrever toda a palestra porque muito do que ela disse, sobre o que é e como funciona a justiça restaurativa, já foi dito antes. Acho importante enumerar alguns pontos que entendi serem relevantes:- a importância de se deixar a comunidade mais forte;- a confiança como peça chave do processo restaurativo;- a utilização nos círculos do "objeto da palavra", um objeto que circula e que aquele que o detém tem a possibilidade de se expressar, falar, enquanto todos os outros lhe ouvem (naquele momento em que o objeto está comigo eu tenho o poder da palavra, assim como todos os demais do círculo terão quando chegar o seu momento);- a existência do "papo restaurativo", aonde algumas perguntas se fazem importantes para alcançar o ofensor: o que se passou na sua cabeça? o que você estava tentando conseguir com isso? quem sofreu e de que forma? como consertar isso?- a relevância da Comunicação Respeitosa, através: da expressão facial neutra, do tom de voz sem sarcasmo, do respirar antes de falar, e do ver sempre o lado positivo;- a importância na JR do equilíbrio de poder entre vítima e ofensor, o que lhes dá a oportunidade de conversar e restaurar suas relações;- a existência de manifestações não verbais no círculo, e com isso a questão dos círculos serem realizados sem a existência de uma mesa, porque atrás dela muito pode ser escondido;- Kay diz que está no nosso DNA a sabedoria de nos relacionar com as outras pessoas, mas que a nossa cultura nos desconecta disso, e que a nossa capacidade fica reduzida, não nos mostrando como realmente somos. (isso eu confesso que acho controverso, mas não quero entrar em discussão nesse momento);- a punição não serve à responsabilização, não repara o dano;- a responsabilização traz a cura para todos;- por vezes a vítima necessita de acolhimento, de ouvir que foi uma injustiça ter ocorrido aquilo com ela;
- é possível ter um círculo aonde ambos entendem que são vítimas, pois ele se presta muito bem quando há dúvida sobre quem cometeu o dano. Isso é uma situação bastante comum. E de uma certa forma todos tem responsabilidade sobre o que aconteceu;
- o silêncio é o que contribui para que a violência continue ocorrendo, e no círculo este silêncio é quebrado;
- Círculo de Paz na escola, funções:
1. intervenção (resolver)
2. construção de comunidade, descobrir técnicas (fortalecer os vínculos)
3. ensinar, como ferramenta pedagógica (comunicação)
- há um engajamento dos que estão ao redor do círculo para criar um senso de comunidade e pertencimento;
- a importância do check-in no início dos momentos de encontro (seja um círculo, uma aula, um curso, uma palestra etc) – quando se passa o objeto da palavra, e se pergunta: como você está, o que está acontecendo com você?
- Se os jovens internalizarem esse processo e suas técnicas, será muito mais fácil inserir essa cultura dentro da sociedade, para dentro de casa, e da sua família;
- Não é preciso estar certo para ser amado;
- Nunca é tarde demais para falar e ser ouvido;
- Falar sobre as coisas que queremos que aconteça, ver o lado positivo, e não as que não queremos.
- Se vc mudar a pergunta, vc muda a direção da ação, da resposta, o que tem que ser feito;
- Quanto maior a turbulência, mais robusta será a solução. As vezes precisamos viver em turbulência para encontrarmos os nossos caminhos;
- Interconectividade - Não podemos cuidar apenas de nós, mas dos outros também. Nós nunca estamos sozinhos, nós pertencemos aconteça o que acontecer, estamos todos interligados.
Muitas coisas ditas, muitas coisas ouvidas, e tudo extremamente importante para o meu crescimento profissional e pessoal. Não há quem fale e que não traga sequer uma dezena de experiências, vivências e ensinamentos que contribuem para que a JR cresça dentro de mim, dos meus conceitos. Confesso que depois das aulas de Comunicação Não-violenta (CNV) não conseguia aplicar na minha vida todo aquele aprendizado, lindo, mas que para mim era complicado demais estabelecer no meu dia-a-dia, mas cada dia a mais que ouço tudo isso consigo internalizar as ideias, e hoje eu sei que já consigo aplicar as técnicas da não-violência. Consigo olhar o outro com certa empatia, percebendo que muito do que não gosto são sentimentos unicamente meus, mas que é possível que o outro tenha necessidades que não estou atendendo naquele momento, e quem sabe eu possa melhorar como indivíduo.
Sabem o que é CNV? Recomendo para aqueles que não sabem, darem uma lida nos primeiros posts desse blog, e começarem a aplicar isso em suas vidas. É uma mudança interna que apazigua o coração e nos faz ver e agir com o mundo de uma forma diferente. Não precisa ter uma religião certa, apenas querer fazer a diferença, e enfrentá-la como uma filosofia de vida.
Tenham uma ótima terça!
Monaliza Costa de Souza
Porto Alegre - RS, 26 de outubro de 2010
Fico muito feliz em saber que de alguma forma o que escrevo está indo além, está alcançando pessoas interessadas em discutir e vivenciar temas como o da Justiça Restaurativa. Obrigada pela referência. Se precisar de qualquer coisa estou a disposição.
ResponderExcluirDe onde vocês são?
Abraço
Monaliza Costa de Souza