terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Caso a caso

"A minha tragédia começou e acabou no século passado; em Janeiro deste novo “Millenium”, entrei por livre vontade num centro de reabilitação e reinserção de toxicodependentes, onde estive 22 meses até que conseguir atingir o objectivo final; finalizar os objectivos impostos, desintoxicação, adaptação, e reinserção – o tal projecto de vida que nos era constantemente exigido.

Saí do Centro a 10 de Setembro de 2001 e após 1 mês de procura, comecei a exercer funções numa empresa perto da minha casa, era o pesadelo transformado em alegria…

Totalmente limpo e livre, a pouco e pouco fui conquistando aquilo que na minha vida antiga estava fora do meu alcance… Era estranho pensar que há 3 anos estava a arrumar carros, e ver-me agora ,ali com um Mercedes na garagem, acordar no meu antigo quarto, que insisti em tudo remodelar sem sentir falta de outra coisa a não ser ir para a beira-mar e absorver a sua força ( o que antigamente achava uma perca de tempo). O que outrora achava enfadonho, tornou-se vital para manter o meu projecto de vida.

Por vezes, sentia alguma vergonha quando passava por pessoas a quem tinha feito mal, mas rapidamente a minha vitória contagiou outros e servia até de exemplo! – O orgulho são, vinha quando outras pessoas que já não davam nada por mim, agora me davam como referência aos seus filhos… Cheguei a ser requisitado por mães aflitas para ajudar os seus filhos! Sabendo eu que, deixar as drogas não é para quem pode mas para quem quer.

A minha família mudou tão radicalmente quanto eu…o alívio era mutuo e sentido, claro que deixar de ver a minha mãe verter lágrimas fazia parte do meu projecto…

Nunca pensei que após tanto tempo (anos) voltasse a vê-la chorar de desespero, o que me leva a condenar esta injustiça de que fui alvo.

Justiça seria em 1999 eu estar aqui a cumprir pena, e não 8 anos depois em 2007, depois de curado e reinserido na sociedade, a trabalhar, cortarem o tal projecto de vida ,com sérios custos para mim , para a minha família, e para o erário público.

Tudo podia estar perdido, mas não está, apesar desta punição transformada em perca de tempo, que castiga e sobrecarrega mais os meus familiares com responsabilidades que entretanto fui adquirindo, assim como os contribuintes pois são eles que pagam esta minha estadia.

Considero-me um falhado. Joguei a minha vida na heroína e a heroína acabou. Pelo menos para mim. Não são os falhados os detentores da força? Os que nunca falharam, levam com eles uma bomba atada à cintura sem saberem.

Por tudo isto, porque sentir remorsos por ter falhado? É o que nos pede a solidão da noite e o que nos prende ao chão de cada dia.

Para que esta dor fosse enorme, bastava toda a ternura que via nos olhos de minha mãe.

Assim, foi bom ter falhado, com ele foi-me dado a responsabilidade de conseguir usar o equilíbrio, a lógica, inteligência e AMOR.

Sou um jovem de 33 anos, longe de casa há mais de uma semana, há kilometros de tempo, fico por aqui voando …. Quando sonho é quando estou a dormir.

E aqui estou eu, à sombra do meu pensamento, onde uma longa fila de vontades esperam contra esta porta sempre trancada…"

Anthony Rolo

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Direcção

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Mensagem de boas-vindas

"...Quando um voluntário é essencialmente um visitador prisional, saiba ele que o seu papel, por muito pouco que a um olhar desprevenido possa parecer, é susceptível de produzir um efeito apaziguador de grande alcance..."

"... When one is essentially a volunteer prison visitor, he knows that his role, however little that may seem a look unprepared, is likely to produce a far-reaching effect pacificatory ..."

Dr. José de Sousa Mendes
Presidente da FIAR