"A minha tragédia começou e acabou no século passado; em Janeiro deste novo “Millenium”, entrei por livre vontade num centro de reabilitação e reinserção de toxicodependentes, onde estive 22 meses até que conseguir atingir o objectivo final; finalizar os objectivos impostos, desintoxicação, adaptação, e reinserção – o tal projecto de vida que nos era constantemente exigido.
Saí do Centro a 10 de Setembro de 2001 e após 1 mês de procura, comecei a exercer funções numa empresa perto da minha casa, era o pesadelo transformado em alegria…
Totalmente limpo e livre, a pouco e pouco fui conquistando aquilo que na minha vida antiga estava fora do meu alcance… Era estranho pensar que há 3 anos estava a arrumar carros, e ver-me agora ,ali com um Mercedes na garagem, acordar no meu antigo quarto, que insisti em tudo remodelar sem sentir falta de outra coisa a não ser ir para a beira-mar e absorver a sua força ( o que antigamente achava uma perca de tempo). O que outrora achava enfadonho, tornou-se vital para manter o meu projecto de vida.
Por vezes, sentia alguma vergonha quando passava por pessoas a quem tinha feito mal, mas rapidamente a minha vitória contagiou outros e servia até de exemplo! – O orgulho são, vinha quando outras pessoas que já não davam nada por mim, agora me davam como referência aos seus filhos… Cheguei a ser requisitado por mães aflitas para ajudar os seus filhos! Sabendo eu que, deixar as drogas não é para quem pode mas para quem quer.
A minha família mudou tão radicalmente quanto eu…o alívio era mutuo e sentido, claro que deixar de ver a minha mãe verter lágrimas fazia parte do meu projecto…
Nunca pensei que após tanto tempo (anos) voltasse a vê-la chorar de desespero, o que me leva a condenar esta injustiça de que fui alvo.
Justiça seria em 1999 eu estar aqui a cumprir pena, e não 8 anos depois em 2007, depois de curado e reinserido na sociedade, a trabalhar, cortarem o tal projecto de vida ,com sérios custos para mim , para a minha família, e para o erário público.
Tudo podia estar perdido, mas não está, apesar desta punição transformada em perca de tempo, que castiga e sobrecarrega mais os meus familiares com responsabilidades que entretanto fui adquirindo, assim como os contribuintes pois são eles que pagam esta minha estadia.
Considero-me um falhado. Joguei a minha vida na heroína e a heroína acabou. Pelo menos para mim. Não são os falhados os detentores da força? Os que nunca falharam, levam com eles uma bomba atada à cintura sem saberem.
Por tudo isto, porque sentir remorsos por ter falhado? É o que nos pede a solidão da noite e o que nos prende ao chão de cada dia.
Para que esta dor fosse enorme, bastava toda a ternura que via nos olhos de minha mãe.
Assim, foi bom ter falhado, com ele foi-me dado a responsabilidade de conseguir usar o equilíbrio, a lógica, inteligência e AMOR.
Sou um jovem de 33 anos, longe de casa há mais de uma semana, há kilometros de tempo, fico por aqui voando …. Quando sonho é quando estou a dormir.
E aqui estou eu, à sombra do meu pensamento, onde uma longa fila de vontades esperam contra esta porta sempre trancada…"
Saí do Centro a 10 de Setembro de 2001 e após 1 mês de procura, comecei a exercer funções numa empresa perto da minha casa, era o pesadelo transformado em alegria…
Totalmente limpo e livre, a pouco e pouco fui conquistando aquilo que na minha vida antiga estava fora do meu alcance… Era estranho pensar que há 3 anos estava a arrumar carros, e ver-me agora ,ali com um Mercedes na garagem, acordar no meu antigo quarto, que insisti em tudo remodelar sem sentir falta de outra coisa a não ser ir para a beira-mar e absorver a sua força ( o que antigamente achava uma perca de tempo). O que outrora achava enfadonho, tornou-se vital para manter o meu projecto de vida.
Por vezes, sentia alguma vergonha quando passava por pessoas a quem tinha feito mal, mas rapidamente a minha vitória contagiou outros e servia até de exemplo! – O orgulho são, vinha quando outras pessoas que já não davam nada por mim, agora me davam como referência aos seus filhos… Cheguei a ser requisitado por mães aflitas para ajudar os seus filhos! Sabendo eu que, deixar as drogas não é para quem pode mas para quem quer.
A minha família mudou tão radicalmente quanto eu…o alívio era mutuo e sentido, claro que deixar de ver a minha mãe verter lágrimas fazia parte do meu projecto…
Nunca pensei que após tanto tempo (anos) voltasse a vê-la chorar de desespero, o que me leva a condenar esta injustiça de que fui alvo.
Justiça seria em 1999 eu estar aqui a cumprir pena, e não 8 anos depois em 2007, depois de curado e reinserido na sociedade, a trabalhar, cortarem o tal projecto de vida ,com sérios custos para mim , para a minha família, e para o erário público.
Tudo podia estar perdido, mas não está, apesar desta punição transformada em perca de tempo, que castiga e sobrecarrega mais os meus familiares com responsabilidades que entretanto fui adquirindo, assim como os contribuintes pois são eles que pagam esta minha estadia.
Considero-me um falhado. Joguei a minha vida na heroína e a heroína acabou. Pelo menos para mim. Não são os falhados os detentores da força? Os que nunca falharam, levam com eles uma bomba atada à cintura sem saberem.
Por tudo isto, porque sentir remorsos por ter falhado? É o que nos pede a solidão da noite e o que nos prende ao chão de cada dia.
Para que esta dor fosse enorme, bastava toda a ternura que via nos olhos de minha mãe.
Assim, foi bom ter falhado, com ele foi-me dado a responsabilidade de conseguir usar o equilíbrio, a lógica, inteligência e AMOR.
Sou um jovem de 33 anos, longe de casa há mais de uma semana, há kilometros de tempo, fico por aqui voando …. Quando sonho é quando estou a dormir.
E aqui estou eu, à sombra do meu pensamento, onde uma longa fila de vontades esperam contra esta porta sempre trancada…"
Anthony Rolo
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