Directoras prisionais. São responsáveis por pessoas que cometeram crimes. Sentem-se realizadas quando sabem que ex-reclusos encontraram um caminho profissional e afectivo. São invadidas pela frustração quando recebem um ex-detido. Mas mantêm a crença na modificação de comportamentosImpõem a disciplina sem prescindir dos brincos e dos colares"As prisões fazem parte da sociedade", observa Ângela. "Temos de preparar os reclusos para a reinserção social", alerta Maria de Fátima. "Garantir a segurança da comunidade é uma vertente do trabalho", assegura Joaquina. Três mulheres que há 20 anos dirigem os estabelecimentos prisionais de Castelo Branco, Sintra e Beja. São responsáveis pela segurança, saúde, educação, trabalho e comportamento de centenas de homens. "Talvez por ser mulher eles façam alguma confusão com a imagem da mãe", sublinha Joaquina Malaqueco, psicóloga, 49 anos. "No princípio tive resistência à minha autoridade por parte dos funcionários. Dos reclusos já recebi poesias e cartas de agradecimento", recorda Ângela Portugal, psicóloga, 50 anos. "A sensibilidade feminina para gerir situações sociais problemáticas gera respeito dos detidos", salienta Maria de Fátima, jurista, 49 anos.Labutam em média 12 horas por dia, o que faz Maria de Fátima por vezes sentir-se "presa" em excesso ao trabalho. A necessidade de saber "tudo", de controlar, até porque é a "responsável máxima pelo estabelecimento", faz com que Ângela tenha "mau feitio" para com os funcionários quando há problemas administrativos ou humanos. "Cuidado redobrado" é a medida de Joaquina para lidar com os reclusos, com quem tem relações mais "tensas, menos simpáticas".São unânimes ao afirmar que a natureza humana é boa. "O meio social modela os comportamentos", afirma Maria de Fátima. "Com os miúdos que recebemos, indivíduos que cedo se envolveram em situações de delinquência, não é uma questão de reinserir, porque muitos não tiveram qualquer oportunidade", avalia Joaquina. "Não quero que me digam obrigado, mas que encontrem um caminho após saírem da prisão", conclui Ângela.Mulheres com o poder e a função de punir homens adultos por comportamentos proibidos. "Fico farta, não compreendo como podem colocar em risco a [liberdade] condicional ou saídas precárias pelo uso indevido de telemóveis", indigna-se Maria de Fátima. "Há funcionários que se queixam de que sou branda e presos que reconhecem ser merecida a punição", relata Ângela. "Há reclusos que ganham o respeito do grupo pelos castigos que recebem, é preciso cuidado", conta Joaquina.Dizem nunca ter sentido a sua integridade física ameaçada, mas sabem o que é medo. Ângela enfrentou dois incêndios, um deles provocado pelos detidos. Joaquina viveu um motim - os presos não se deixavam fechar em protesto pela substituição do dinheiro por fichas. Maria de Fátima voltou a correr do Algarve; os reclusos estavam a agredir-se. Estão "chateadas" com os jornalistas. Para Joaquina, os profissionais da informação não "interpretam" bem os factos. Para Maria de Fátima "exageram" em aspectos sem relevância. Ângela pensa que a imprensa deve estar preocupada em "retratar" a realidade e não em "vender".Quando usufruem da liberdade de ir e vir, elas vão ao cinema, saem para dançar, visitam as famílias, caminham e respiram. Elas não se casaram e não têm filhos. Maria de Fátima não sabe ao certo "se é causa ou consequência do trabalho". É certo que são vaidosas - cabelos escovados e tingidos, saltos e saias, malas de pele e acessórios nas orelhas e pescoços. São revistadas quando entram e saem do serviço. Perderam a "ingenuidade", mas mantêm o "ideal de criar oportunidades". Esperam que a sociedade esteja "preparada" para receber as pessoas que "passaram" pela prisão.
ISADORA ATAÍDE
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