quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Luísa Sá

Foi há 20 anos que pisou, pela primeira vez, o chão de uma cadeia. Desde aí nunca mais abandonou os seus «meninos». Após muitos anos de voluntariado, que lhe valeram a Medalha de Mérito da Presidência da República, Luísa Sá ajuda agora a inserir reclusos na vida profissional. Mas mais do que isso, dá-lhes a mão, acredita neles, ajuda-os a encontrar uma vida, depois da prisão. Confiar e acreditar. São as duas principais premissas de Luísa Sá.
No gabinete do Centro Comunitário de Carcavelos, Luísa fala com Pedro que está há seis meses a trabalhar num quartel de bombeiros. Tudo corre bem com o trabalho. “A cabeça é que às vezes não anda bem”, confessa, de olhos no chão. “E quando é assim o que é que te disse para fazeres?”, pergunta Luísa, quase ofendida. “O que tens que fazer é ligar-me para falarmos, já sabes”.Mas pelo gesto da cabeça, que olha para o lado, percebe-se que Pedro não é homem para fazer isso, pedir ajuda. Outros fazem, garante Luísa Sá: “Alguns ficam em contacto comigo para sempre, ligam-me quando têm filhos, quando casam, no Natal”. É quase como uma família que vai crescendo, fruto de apoios e afectos.
Vida EmpregoEm 1998, Luísa foi convidada para ser mediadora do programa Vida Emprego (do Instituto de Emprego e Formação Profissional), na área de Lisboa e Vale do Tejo. O programa estende-se a todo o país mas dedica-se exclusivamente à reinserção profissional de ex-toxicodepentes.Só que os 15 anos de voluntariado na área dos prisionais, fizeram com que Luísa abrisse portas para uma colaboração directa com as prisões de Lisboa. Assim, e apenas em Lisboa e Vale do Tejo, o Programa Vida Emprego estende-se aos ex-toxicodependentes em liberdade condicional. “Eu já conhecia muito bem os meandros do sistema prisional, por isso foi fácil colaborar com as cadeias. Eles sinalizam-me a situação jurídica dos reclusos: os que vão passar ao Regime Aberto Virado para o Exterior (prisão condicional) e estão abstinentes das drogas”. Depois, mediante o perfil do recluso, Luísa escolhe uma entidade profissional que o possa receber. O programa Vida Emprego prevê um estágio de nove meses, com ordenado mínimo, e subsídio de alimentação e de transporte. Depois segue-se um contrato de um ano, também financiado pelo IEFP. E por fim, o recluso passa para os quadros da empresa empregadora. “A minha função, no meio de tudo isto, é garantir o sucesso da reinserção, junto do recluso, dos empregadores e dos técnicos prisionais”. Este sistema é um exemplo que, para Luísa, devia ser estendido às cadeias de todo o país. “Até agora, o acolhimento dos reclusos tem sido fantástico. Tanto da parte dos outros trabalhadores como dos superiores. O importante, acho, é mostrar que acreditamos neles”, explica. Luísa Sá luta para que o país e a sociedade percebam que estas pessoas erraram mas «merecem outra oportunidade». “Se a sociedade der uma pequena ajuda, as coisas equilibram-se. O indivíduo ganha auto-estima, a criminalidade diminui, a despesa do Estado também desce”, avisa. “Eu existo pelos reclusos, é a minha batalha”, confessa com o sorriso tranquilo, de alguém plenamente realizado.


Patrícia Maia [texto] José Frade [fotos]

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Direcção

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Mensagem de boas-vindas

"...Quando um voluntário é essencialmente um visitador prisional, saiba ele que o seu papel, por muito pouco que a um olhar desprevenido possa parecer, é susceptível de produzir um efeito apaziguador de grande alcance..."

"... When one is essentially a volunteer prison visitor, he knows that his role, however little that may seem a look unprepared, is likely to produce a far-reaching effect pacificatory ..."

Dr. José de Sousa Mendes
Presidente da FIAR