"Acredito nunca me ter debruçado sobre o real valor da "liberdade" até ao dia em que a perdi ...
Nasci no ano de 1977, o que por si só indica que, atendendo ao factor história já não conheci a opressão, a prisão fisíca e mental, a falta de liberdade de expressão, as duas gerações que me antecederam lutaram por mim e por todos os da minha geração aos quais a liberdade foi dada de bandeja e não foi ensinado a "conquistar".
Saber lidar com a liberdade que se possui é quase tão dificil como saber lidar com a falta dela. Para tudo é preciso criar limites internos, fazer um rascunho mental do que somos, do que queremos e até onde podemos ir, não até onde a liberdade nos permite, mas até onde a liberdade nos "liberta".
De todas as perdas, a perda da "dignidade do ser" é a pior das consequências da perda de liberdade fisíca; estar restringido a um espaço e a uma condição nunca me afectou em demasia ... frustava - me e angustiava - me a impotência, o ter feito da palavra "risco" o meu lema de vida sem olhar para os lados ...
Antes de a perder, fiz da minha liberdade um campo cada vez mais alargado, alegrava - me as "conquistas" de terreno e o alargamento do mesmo, não tinha limites, manipulava a minha vida e as minhas vivências de forma insconciente e ingénua, media o meu valor e o dos que me rodeavam, pelo número de metros quadrados do qual a sua liberdade era dotada. Não percebi que, para ser feliz e viver em paz precisava de apenas um pequeno "quintal", em terra firme e com muros altos."
Elizabete Pedro
em memória do PAVLOV, cuja vida a etologia não poupou.
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