Em dez meses suicidaram-se no Estabelecimento Prisional de Custóias, no Porto, sete presos, tantos quantos os que, em todo o ano passado, se mataram nas 50 cadeias do país. Esta onda de mortes, todas por enforcamento, está directamente relacionada com a droga. Não só devido ao consumo mas também porque as vítimas acabam por ficar reféns de outros reclusos que, dentro das prisões, continuam a liderar redes de tráfico.
"Sim, há histórias de presos que se mataram ou tentaram matar depois de terem problemas com outros reclusos", confirma Jorge Alves, presidente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional, acrescentando ainda que esses problemas resultam, muitas vezes, de "contas mal resolvidas". No caso dos suicídios de Custóias, tal como terá acontecido igualmente com, pelo menos, três casos em Pinheiro da Cruz, todas as vítimas tinham problemas de toxicodependência e, suspeita-se, todos estariam implicados na venda de droga no interior da cadeia. O pagamento destes presos é, normalmente, feito com doses de estupefaciente.A prática de crimes (como a venda de droga, extorsões, furtos e chantagens) entre a população prisional é do conhecimento das autoridades, que já chegaram a identificar situações em que até os familiares dos reclusos a punir acabaram por ser castigados. Recentemente, numa cadeia do Norte do país, era uma familiar de um recluso que, ameaçada por familiares de um outro, fazia transferências bancárias para a conta do homem que, apesar de estar preso, vendia droga ao seu filho.A organização das redes de venda de droga nas cadeias passa, normalmente, pela existência de um chefe (o dono do estupefaciente), que tem um grupo de vendedores a trabalhar para si. Estes indivíduos são todos toxicodependentes e são pagos com estupefaciente. Os problemas surgem quando, para alimentarem o próprio vício, deixam de entregar o dinheiro certo. Surgem então as agressões, as violações e as pressões psicológicas, com ameaças aos familiares que vivem em liberdade. Alguns dos presos, como tudo indica ser o caso dos sete que este ano já se mataram em Custóias, não aguentam a pressão e matam-se.16 suicídios este anoEssas contas mal resolvidas, conforme explica Nuno Moreira - psicólogo e guarda prisional que se prepara para defender, na Universidade do Minho, uma tese sobre o suicídio nas cadeias -, são uma consequência de, segundo um estudo feito ao longo de seis meses na prisão de Custóias, 68 por cento dos presos (numa amostragem inicial de 100) serem viciados em drogas. "Concluí que dos presos toxicodependentes identificados 31 por cento evidenciaram um risco de suicídio. Além disso, entre a amostragem, descobri ainda que 16 por cento já haviam efectuado automutilação fora da cadeia", explica Nuno Moreira.Para este psicólogo - que no ano passado lançou o livro Sofrimento na Prisão: Comportamentos Suicidários entre Reclusos, onde concluiu que, em 2004, o número de suicídios nas cadeias foi 15 vezes superior à média nacional -, existem vários motivos que levam os reclusos ao suicídio. "São muito vulneráveis, sofrem, muitas vezes, de perturbações psiquiátricas e, normalmente, são pessoas que não conseguem resolver os seus problemas."Os dados da Direcção-Geral dos Serviços Prisionais (DGSP) revelam que este ano já puseram termo à vida nas diversas cadeias nacionais 16 reclusos. A DGSP lembra que, para além dos inquéritos obrigatórios após cada morte, existe a preocupação de humanizar as cadeias, não só promovendo o contacto dos presos com educadores e psicólogos, mas criando espaços mais seguros e alas prisionais para reclusos que querem largar o consumo das drogas. Marinho Pinto, bastonário da Ordem dos Advogados, que ontem visitou o Hospital Prisional São João de Deus, em Caxias, onde se deu início ao processo de vacinação do pessoal prisional e dos reclusos contra a gripe A, alertou, no ano passado, para o elevado número de pessoas que todos os anos morrem nas prisões.
publico.pt
"Sim, há histórias de presos que se mataram ou tentaram matar depois de terem problemas com outros reclusos", confirma Jorge Alves, presidente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional, acrescentando ainda que esses problemas resultam, muitas vezes, de "contas mal resolvidas". No caso dos suicídios de Custóias, tal como terá acontecido igualmente com, pelo menos, três casos em Pinheiro da Cruz, todas as vítimas tinham problemas de toxicodependência e, suspeita-se, todos estariam implicados na venda de droga no interior da cadeia. O pagamento destes presos é, normalmente, feito com doses de estupefaciente.A prática de crimes (como a venda de droga, extorsões, furtos e chantagens) entre a população prisional é do conhecimento das autoridades, que já chegaram a identificar situações em que até os familiares dos reclusos a punir acabaram por ser castigados. Recentemente, numa cadeia do Norte do país, era uma familiar de um recluso que, ameaçada por familiares de um outro, fazia transferências bancárias para a conta do homem que, apesar de estar preso, vendia droga ao seu filho.A organização das redes de venda de droga nas cadeias passa, normalmente, pela existência de um chefe (o dono do estupefaciente), que tem um grupo de vendedores a trabalhar para si. Estes indivíduos são todos toxicodependentes e são pagos com estupefaciente. Os problemas surgem quando, para alimentarem o próprio vício, deixam de entregar o dinheiro certo. Surgem então as agressões, as violações e as pressões psicológicas, com ameaças aos familiares que vivem em liberdade. Alguns dos presos, como tudo indica ser o caso dos sete que este ano já se mataram em Custóias, não aguentam a pressão e matam-se.16 suicídios este anoEssas contas mal resolvidas, conforme explica Nuno Moreira - psicólogo e guarda prisional que se prepara para defender, na Universidade do Minho, uma tese sobre o suicídio nas cadeias -, são uma consequência de, segundo um estudo feito ao longo de seis meses na prisão de Custóias, 68 por cento dos presos (numa amostragem inicial de 100) serem viciados em drogas. "Concluí que dos presos toxicodependentes identificados 31 por cento evidenciaram um risco de suicídio. Além disso, entre a amostragem, descobri ainda que 16 por cento já haviam efectuado automutilação fora da cadeia", explica Nuno Moreira.Para este psicólogo - que no ano passado lançou o livro Sofrimento na Prisão: Comportamentos Suicidários entre Reclusos, onde concluiu que, em 2004, o número de suicídios nas cadeias foi 15 vezes superior à média nacional -, existem vários motivos que levam os reclusos ao suicídio. "São muito vulneráveis, sofrem, muitas vezes, de perturbações psiquiátricas e, normalmente, são pessoas que não conseguem resolver os seus problemas."Os dados da Direcção-Geral dos Serviços Prisionais (DGSP) revelam que este ano já puseram termo à vida nas diversas cadeias nacionais 16 reclusos. A DGSP lembra que, para além dos inquéritos obrigatórios após cada morte, existe a preocupação de humanizar as cadeias, não só promovendo o contacto dos presos com educadores e psicólogos, mas criando espaços mais seguros e alas prisionais para reclusos que querem largar o consumo das drogas. Marinho Pinto, bastonário da Ordem dos Advogados, que ontem visitou o Hospital Prisional São João de Deus, em Caxias, onde se deu início ao processo de vacinação do pessoal prisional e dos reclusos contra a gripe A, alertou, no ano passado, para o elevado número de pessoas que todos os anos morrem nas prisões.
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